DEFININDO A PALAVRA "MARTINISMO"



DEFININDO A PALAVRA "MARTINISMO"
Por um S.I.

Temos recebido vários contatos questionando sobre o significado da palavra "martinismo", notamos um certo padrão nas mensagens com conceitos errados. Palavras similares mas que em essência são muito diferentes e que geram muitas confusões.

Nota-se ainda que pela multiplicação de ditas "Ordens Martnistas" disso ou daquilo além da conferência indiscriminada de "Graus", muitos iniciados e até mesmo outros portadores de vários títulos, desconhecem por completo o que seja o próprio martinismo e suas "linhas" de estudo e trabalho. Devido a esse despreparo e desleixo de certos "Livres-Iniciadores", vemos cada vez mais aumentar o número de iniciados totalmente perdidos nessa vasta selva de pseudo-ordens e iniciações.

Focaremos hoje apenas na definição da palavra "Martinismo", que mesmo em nosso meio não há ampla aceitação protocolar desses conceitos.

Vamos tentar abaixo definir algumas para que no futuro possamos nos situar nos diversos contextos possíveis.

Tudo começa com a similaridade de dois grande nomes do passado: Martines de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin. Confusões enormes  foram geradas pelo "Martines" e pelo "Martin" de seus  respectivos nomes.

Sobre o termo "Martinista":
Analisando históricamente dentro dos livros mas principalmente entre as cartas trocadas na época, entre Saint-Martin, Pasqually, Willermoz e vários outros, saberemos que a palavra "Martinismo" não estava presente. De acordo com Franz Von Baader, algumas vezes Saint-Martin usou termo "Martinista" para se referir àqueles de sua "antiga escola" ou seja os Elus-Cohen a qual se desligou rumo à via interior da teurgia interna; portanto o termo martinista estaria relacionado aos estudantes dos ensinamentos Elus-Cohen de Martines de Pasqually, praticantes da teurgia externa ritualística.

Após a saída de L.C.de Saint-Martin de todos os grupos maçônicos inclusive dos Elus-Cohen, e com a morte no Haiti de Pasqually, essa ordem sofre com a falta desse e suas instruções particulares, muitos migram para outras ordens e seus membros ficaram esparsos. Willermoz tenta incluir alguma coisa da teoria Cohen dentro da estrutura do recém criado Rito Escocês Retificado. Aproximadamente na mesma época Saint-Martin encontra os livros de Boheme e se dedica a sua busca mística, longe da teúrgica.

Muitos anos depois varios historiadores e pesquisadores "maçônicos" e "martinistas" dentre os quais Papus, frequentemente confundem os termos "martinistas" e "martinismo" ao se referir uma hora a Pasqually outra hora a Saint-Martin, mesmo quando escreve seu livro intitulado "Martinismo, Martinezismo, Willermozismo e Franco-Maçonaria".

Desde então não chegamos a uma definição amplamente aceita de quais termos corretos a serem usados. Entretanto vemos na literatura em francês alguns textos que ajudam a nos orientar. Por fim adotamos os seguintes termos abaixos:

"Martinista": Nome genérico dado atualmente a algum estudante de ordem ou grupo ligado ao martinismo em geral ou uma de suas "subdivisões" (conforme veremos abaixo), seja estudante de uma ordem martinista específica, de um grupo independente ou mesmo como estudante livre. 

"Martinismo": O conjunto da obra composta em essência pela influência Elus-Cohen de Pasqually e seu livro Tratado da Reintegração dos Seres, com a essência dos diversos livros de Louis Claude de Saint-Martin com sua infleuncia de Jacob Boehme. Atualmente é o termo usado pela maior parte pelas diversas "Ordens Martinistas" estruturadas e hieraquizadas. Há grupos independentes e silenciosos detentores da linhagem ininterrupta, que também podem definir seus trabalhos como martinismo.

"Martinezismo": Este termo se refere em sua maioria às práticas teúrgicas e ritualísticas cerimoniais especificamente as apresentadas dentro dos Elus-Cohen por Martines de Pasqually. É o caminho operativo. Aqui com este termo não nos referimos à filosofia mistica de Saint-Martin ou de Boehme ou sua influência.

"Willermozismo": Termo pouco empregado atualmente, mas em sua essência podemos defini-lo como a base de formação do que veio a se tornar o Rito Escocês Retificado, um dos varios ritos maçônicos o qual Jean Baptiste Willermoz procurou incluir alguns aspectos superficiais dos ensinamentos Elus-Cohen, em especifico nos graus de, Professo e Grande Professo (Graus inexistentes na atualidade). Não há práticas teúrgicas e o pouco que restou de Cohen, esta diluido ao longo do rito culminando no grau CBCS ou Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa. É um rito maçônico com ênfase na orientação cristã e na prática da Caridade (ou ao menos deveria ser). Muito incorreto estão afirmações de que L.C.de Saint Martin teria colaborado de forma muito ativa com a formação de instruções desse rito; já que o mesmo se desligou da maçonaria e nas reuniões da loja de Willermoz, ele se fazia presente ocasionalmente pela consideração que Saint-Martin tinha com esse.

"Saint-Martinismo" ou "Saint-Martinista": Muito utilizado atualmente por vários grupos que buscam unicamente pela filosofia mística, da teurgia interior de Louis Claude de Saint-Martin, alguns ligados ao "Bohemismo ou Behemismo", filosofia de Jacob Boehme. O Saint-Martinismo é focado no estudo dos livros de Saint-Martin e livre totalmente de práticas teúrgicas cerimonialistas dos Elus-Cohen ou do Rito Escoces Retificado. Ao contrário dos sistemas anteriores, esse é um sistema interior chamado de "Via Cardíaca" (outro termo muito confundido com a Via do Coração).

Apesar de não incluirmos na relação dos tópicos anteriores, podemos citar também o termo Papusiano ou outros como "pré ou pós Papus". Vale lembrar que desde a saída de Saint-Martin de todo grupo maçônico, este se dedicou ao estudo dos livros de Jacob Boehme e reunia-se com grupos de buscadores que ficaram conhecidos por Círculos dos Íntimos, onde transmitia seus conhecimentos e o influxo espiritual que detinha a poucos. Essa transmissão feita em um único grau ficou conhecida por "S.I." de forma livre. 

Após a morte de Louis Claude de Saint-Martin, esses círculos de íntimos continuaram seus trabalhos, muitos se dispersaram e transmitiam e repassavam essa iniciação à alguns de seus próximos. Foi assim que essa iniciação chegou a Papus e Pierre Augustin Chaboseau que se recinheceram como detentores da mesma iniciação.

Papus reuniu alguns outros "S.I.'s" livres e com esses formou um Supremo Conselho da então criada "Ordem Martinista", numa estrutura hierarquizada e dividindo a iniciaçao original em etapas formando assim três graus Associado, Iniciado e Superior Incógnito. O termo "Papusiano" refere-se então nesse contexto ao martinismo estruturado, em graus e hierarquizado (lojas, presidentes e oficiais) do qual surgiram as demais ordens martinistas que conhecemos, em contraparte ao martinismo dito "Livre ou Independente", de grupos ou membros remanescentes de linhagem direta dos Círculos dos Íntimos. Como um exemplo citamos os martinistas livres da Rússia dessa época, os quais com linhagem direta de Saint-Martin sem passar por Papus.

Há necessidade de se escolher com muito cuidado a palavra que será colocada, ainda mais em se tratando de martinismo que pela sua ampla variedade atual, corremos o sério risco de em determinado momento estarmos usando termos até mesmos opostos ao seu significado real de origem.