A Máscara é Minha Verdadeira Face

 


 A Máscara é Minha Verdadeira Face 

Remi Boyer


"A máscara do iniciado martinista, Robert Amadou me ensinou no dia em que me deu, simboliza nossa verdadeira face a ser adquirida, a da semelhança divina. E o velho mestre cita o humorista para quem "até os 40, temos a face que nos foi dada; depois dos 40, temos a aparência que merecemos!

Todo homem é um outro Cristo, afirma Saint-Martin, e ele pode realizar, em nome de Cristo, coisas tão grandes quanto o rabino Ieschoua de Nazaré, e ainda maiores. A máscara esconde o Cristo que está em mim, e o revela a quem olhar para esta máscara como ela é. Do Cristo sofredor ao Cristo glorioso, em suma. Pois esta máscara de escravo, usada por todo homem redimido pelo Verbo que assumiu a forma de escravo na Encarnação, esta máscara esconde minha verdadeira face, que é de glória. Mas esta glória, a que aspiro porque é a verdadeira natureza oculta do meu corpo, deste corpo que não é meu, mas que também sou eu, esta glória não perdida mas sepultada, só a posso encontrar no silêncio e na apagamento.

A máscara, como qualquer símbolo, não é apenas o signo desse apagamento. É o meio, numa interiorização, um processo de abandono, que começa com a minha personalidade mundana, e que vai continuar, se Deus quiser, numa caminhada permanente da periferia para o centro: adquirir um rosto para conversar face a face com Deus. Essa busca do centro, que é também o eixo do mundo, como o centro é o eixo do homem, é a busca do coração, que Papus, o Admirável, chamou de "caminho cardíaco" e que Saint-Martin, um século antes dele, designou como interno.

Ao passar do múltiplo ao um, ou dos números periféricos aos centrais, me afasto do Divisor e me aproximo do Senhor. Pouco a pouco deixo o mundo do tempo para entrar no intemporal, marchando para a eternidade redescoberta, que é a minha parte do Eterno. Infelizmente, o Divisor reina em todos os lugares, já que todos os lugares pertencem a ele, em seu principado. 

 Na escola de Martines, Saint-Martin coloca em Números que o quaternário dos três elementos, que são fogo, água e terra, é construído em torno do número cinco, que aqui faz seu centro. Pois Adão, em quem o homem pecou, ​​tomou o centro errado (ver como Martines de Pasqually narra o episódio de sua tentação nas primeiras seções do Tratado sobre a Reintegração).

Nele, todo homem caído é descentrado, confundindo sua própria realidade ilusória com a real. O homem caído foi envenenado e, de acordo com Karl von Eckartshausen, nosso sangue traz vestígios disso, o que nos atrai para esse centro ilusório como um ímã para sua fonte. 

Mas o próprio Reparador não sucumbiu às armadilhas do Divisor (Mateus, IV, 1-11), que inverte os valores pervertidos para o homem. Ele assim estabelece um outro centro do mundo, restabelecendo o centro de todas as coisas, que é o Reino a ser alcançado, tão distante, porque dentro de nós onde ninguém o procura. Já que temos que mudar de centro, depois do quadrado dos elementos, coloquemos novamente com Saint-Martin que o quatro, nosso número íntimo, é o centro, enquanto o três, que assinala as formas, é um número da circunferência. Quatro será, portanto, contra cinco, o verdadeiro centro a ser alcançado, uma vez que revela a unidade. Mas duas unidades não são permitidas, e acreditar nisso vem sob a ilusão do Maligno. Então, como você vai de cinco para quatro? Pelo abandono dos quatro, que é a descida para cima.

Cristo na cruz assina assim com o seu sangue o ato de redimir o homem do Adversário. E o Iniciado Martinista é outro Cristo."  

 * * *

AS SEPHIROTHS E SUAS LIMITAÇÕES




AS SEPHIROTHS E SUAS LIMITAÇÕES


Em primeiro lugar, você deve saber que todo o Zohar, incluindo as partes narrativas, consiste inteiramente das Dez Sephiroth, e das combinações destas Dez Sephiroth.

Do mesmo modo que as combinações entre as 22 letras da língua Hebraica são suficientes para nos trazer a Luz de qualquer objeto de sabedoria, similarmente, é o conjunto e combinações de conjuntos destas Dez Sephiroth que são suficientes para trazer luz à toda a sabedoria que pode ser encontrada no Zohar.

Entretanto, existem limites ou fronteiras, sobre as quais todos devem ser cuidadosamente evitar pisar, quando estudarem este livro:

1 - Você deve saber que existem quatro categorias de classificação racional: a) Matéria, b) Forma que está contida na matéria, c) Forma Abstrata, d) Essência.

As Dez Sephiroth devem ser similarmente classificadas, como veremos adiante. Entretanto, você deve saber que o Zohar não lida com a Essência, ou mesmo com a Forma Abstrata dos Dez Sephiroth, mas somente lida com a parte Material deles e também com a parte da Forma, enquanto estiver num estado de ser vestida pela Matéria.

2 - Você deve saber que a totalidade da existência divina que está conectada com a criação das Almas (Neshamot) e nos caminhos para sustentá-las, é para nós diferenciada por três aspectos, que consistem de: a) O Sem-Fim, abençoado seja Ele; b) O Mundo da Emanação; c) Os três Mundos de Beriah (Criação), Yetzirah (Formação) e Asiah (Realização). Entretanto, você deve saber que o Zohar lida apenas com os três Mundo de Beriah, Yetzirah e Asiah. Mas o Sem-Fim e o Mundo da Emanação (Atziluth) são tratados apenas no que diz respeito ao que estes três Mundos recebem deles, e o Zohar nunca trata com o Abençoado Sem-Fim e o Mundo da Emanação como categorias próprias.

3 - Você deve saber que em cada um dos três Mundos da Criação, Formação e Realização existem três aspectos: a) as Dez Sephiroth que constituem as linhas divinas que iluminam cada mundo, b) as Almas (Neshamot) e Espíritos (Ruhot) e Espíritos Primitivos (Nefashot) da humanidade, c) Tudo o mais que existe em cada um dos mundos e denominado sob os termos de Anjos, Paramentos e Átrios ou Salas - todos possuindo inumeráveis partes. Entretanto, você deve entender que mesmo que o Zohar explane detalhadamente todas as partes de cada mundo, os mundos principais do Zohar estão sempre centrados nos aspectos das Almas (Neshamot) humanas de cada mundo. Quando entra em explanações sobre os outros aspectos, meramente o faz para clarificar o que as Almas (Neshamot) recebem deles. Entretanto, o Zohar não devota uma única simples palavra a nada que não esteja conectado com aquilo que as Almas (Neshamot) recebem. Portanto, ao estudar o Zohar, sua mente deve estar dirigida somente ao entendimento que se refere ao recebimento da Alma (Neshamah).

Estes limites devem ser estritamente observados no estudo do Zohar.

Você já deve saber agora que existem Dez Sephiroth, que são chamadas Hokhmah (Sabedoria), Binah (Inteligência), Tiferet (Beleza) e Malkhut (Reino), coja raíz é Kether (Coroa). Eles somam Dez, porque Tiferet inclui outras seis Sephiroth; Hesed (Misericórdia), Gevurah (Julgamento), Tiferet (Beleza), Netzah (Paciência Perpétua), Hod (Majestade) e Yesod (Fundação). Este fato deve estar sempre em mente, quando as Dez Sephiroth forem mencionadas como Hokhmah, Binah, Tiferet e Malkhut.

Estas Dez Sephiroth geralmente incluem todos os quatro mundos da Emanação, Criação, Formação e Realização ou Ação, onde o Mundo da Emanação é a Sephirah Hokhmah, o Mundo da Criação é a Sephirah Binah, o Mundo da Formação é a Sephirah Tiferet e o Mundo da realização é a Sephirah Malkhut. Entretanto, não só estes quatro mundos contém individualmente a totalidade das Dez Sphiroth, como também a menor parte de cada mundo também contem a totalidade das Dez Sephiroth.

TEORIA e PRÁTICA


TEORIA E PRÁTICA
Por Clóvis Peres
Urano, o céu

E tanto mesmo nas idéias pequenas que já me aborrecendo, e por causa de tantos fatos que estavam por suceder, dia contra dia.1

             Entre a Lua, a que passa, e o Saturno, o que dura, se desenvolve Urano, o entendimento que nasce do conhecimento da regularidade que existe sob a aparente confusão dos fenômenos da natureza. Avistado em 13 de março de 1781, na época das grandes Revoluções, que pretendiam novo calendário, simboliza o progresso que irrompe da velha regularidade estabelecida pelos antigos. Aqui o passado determina o que é e o que vai ser, e os signos que  expressam essa relação, entre o que se modifica e o que persiste, são Câncer/Capricórnio/Áries /Libra: a sensibilidade e a intuição de um ambiente sempre móvel, em transformação; a fixação lógica dessas impressões conforme a necessidade; e a inovação na situação em que se encontra. O nascimento, a memória, a subjetividade, a força motriz, o  ímpeto e a motivação.

A primeira safira é Keter, a Coroa, origem de tudo, vácuo primordial. Primeiro criou um ponto, que se tornou o Pensamento, onde imprimiu todas as figuras... Era e não era, encerrado no nome e esquecido no nome, não tinha ainda outra designação que “Quid”, puro desejo de ser chamado por um nome...No princípio traçou signos no vento, uma chama escura brotou de seu fundo mais secreto, como uma névoa incolor que desse forma ao informe, e mal esta começou a expandir-se, em seu centro surgiu um manancial flamante que se derramava para iluminar as safiras inferiores, descendo em direção ao Reino.2

             O princípio da revolução e do progresso, do que irrompe sob a regularidade, estabelecida há tanto tempo, e que já não dá conta daquilo que ela mesma possibilitou existir: a revolução industrial na Inglaterra, que através da máquina e da fábrica transforma a natureza no mundo humano, a fundação dos Estados Unidos que propaga a ideia da liberdade religiosa, da liberdade de imprensa e do júri popular, e a revolução Francesa, que declara que existem direitos humanos universais, guilhotina o rei, expulsa os padres e estabelece a República. Os franceses e os norte-americanos têm sua data nacional em Julho, no verão, no signo de Câncer, da Lua e das águas que sempre fluem por entre as pedras, dissolvendo o poder da estrutura, que o astrólogo chama de Saturno, sobre a vida subjetiva dos indivíduos. No Brasil colonial agiam os Inconfidentes que escondiam, dos agentes de Portugal, livros científicos e o Espírito das Leis, do Montesquieu, onde liam:

O primeiro é o espaço: a República deve ter uma expressão territorial assaz modesta, há que ser pequena enquanto a Monarquia precisa de um espaço grande e o Despotismo de um espaço ainda maior. Em segundo lugar, na República tem que haver uma relativa igualdade, na monarquia desigualdade em benefício de uma nobreza que é necessária para a própria existência do poder real, no Despotismo aquela igualdade que se dá quando todos são escravos. 

Em terceiro lugar, na República, as leis são expressão da vontade popular, enquanto na Monarquia são expressão da vontade do rei, limitado, contudo, pelas leis fundamentais (ele é obrigado a governar segundo leis fixas e estáveis, que são aplicadas por um poder judiciário independente) e o Déspota governa por decretos ocasionais e improvisados. Em quarto lugar, são diferentes as forças de integração social: na República é a virtude que leva os cidadãos a antepor o bem do Estado ao interesse particular; na Monarquia é o senso de honra, da nobreza que é sustentáculo, e ao mesmo tempo limite do poder do rei; no Despotismo é o medo que paralisa os súditos.” 3

Netuno, o mar
Somente com a alegria é que a gente realiza bem – mesmo as mais tristes ações. 4
             Entre Mercúrio, o que circula entre, e Júpiter, o que se dirige a algo, existe o Netuno, a compreensão, o outro lado da ação, que nasce da edição jupiteriana das informações coletadas por Mercúrio. Avistado em 24 de setembro de 1846, na época da afirmação da Fábrica e da Ciência, simboliza as novas formas de ação individual e social, outro modo de ser, adequados à Cidade mecânica que, nesse momento, se afirma, definitivamente, sobre o campo, exigindo nova afeição, novas leis e regulações para o convívio da multidão que se aglomera. Aqui o presente determina o que foi e o que será, e os signos que expressam essa relação, entre movimento e sentido, são Gêmeos/Sagitário/Peixes/Virgem, signos do que se pode e do que não se pode nesse momento e lugar: ação e reação, comunicação e informação, individual e coletivo, a  guerra e a paz.

“Na segunda safira o Alef tenebroso se transmuda no Alef luminoso. Do ponto obscuro brotam as letra da Torah, o corpo são as consoantes, o hálito as vogais, e juntas acompanham a cantilena do devoto. Quando a melodia dos signos se move movem–se com ela as consoantes e as vogais. Surge então Hokmah, a sabedoria, a sapiência, a idéia primordial na qual tudo se contém como num escrínio, pronto para desenvolver-se na criação. Em Hokmah está contida a essência de tudo o que se seguirá...”5

             O princípio da ação conjunta, baseada na informação, da multidão em movimento, da matilha, do enxame e do cardume. Os anos ao redor de 1846 são chamados de Primavera dos Povos, pois que as monarquias ainda existentes são depostas pela população armada e as repúblicas e as monarquias limitadas se estabelecem definitivamente no continente europeu; aqui, no Brasil, se encerra a Guerra dos Farrapos, que proclamara a República do Piratini e, sob pressão da indústria inglesa, se proibe o tráfico de escravos. Darwin, Marx e Kardec procuram representar o que se apresenta, seja através de uma origem das espécies a partir da seleção natural, de uma redenção dos trabalhadores industriais no paraíso comunista, ou do serviço dos espíritos imateriais evoluídos para com os espíritos encarnados e sofredores. 

Plutão , o inferno
Deus é muito contrariado. Deus deixou que eu fosse, em pé, por meu querer, como fui.6
             Entre Vênus, a que deseja, e Marte, o que quer, irrompe o Plutão, a paixão, o fim que determina procedimentos e programas, de modo a atingir objetivos determinados. Foi avistado em 18 de fevereiro de 1930, quando a engenharia social procura estabelecer a sociedade perfeita, nazista ou comunista, e, ao mesmo tempo, produz-se a primeira reação nuclear em cadeia, em laboratório. Aqui o futuro determina e o que foi e o que é, e os signos que expressam essa relação, entre o desejo e a sua mecânica, são Leão/Aquário/Touro/Escorpião, a técnica, o desenho, a ferramenta e a programação.

Binah é o palácio que Hokmah constrói expandindo-se do ponto primordial. Se Hokmah é a fonte, Binah é o rio que dele brota dividindo-se depois em seus vários ramos, até que todos vão desembocar no grande mar da última safira – e em Binah todas as formas já estão prefiguradas. 7

             O princípio da paixão, do obscuro objeto do desejo, daquilo que toma conta de todas as forças e as dirige, implacável, até o fim desejado: Getúlio Vargas assume o poder no Brasil, Hitler na Alemanha, Stalin na Rússia, Mussolini na Itália, cada um atravessado pelo desejo da multidão amplificado pelo rádio; e a vontade de saber que conduz à fissão nuclear e à bomba atômica, construída à imagem e semelhança das estrelas e das paixões que explodiram na Segunda Guerra Mundial.

Urano e Plutão
             A conjunção de planetas é sinal de início, novo começo em relação à conjunção anterior, como a Lua, que a cada mês, é nova, crescente, cheia e minguante; a última conjunção de Urano com Plutão, antes de 1965/66, ocorreu no signo de Áries, entre 1850 e 1851, época que se convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial, movida à eletricidade, petróleo e aço, a partir dos quais a cidade, os meios de transporte, as técnicas de iluminação, de alimentação e de vestuário experimentam as transformações mais radicais de todos os tempos. 

             Em 1876, a quadratura crescente de Urano em Leão com Plutão em Touro, em signos fixos (que ordenam procedimentos, protocolos e programas em função do fim a ser atingido), simboliza afirmação crescente do domínio matemático-lógico, técnico, sobre a circularidade mecânica dos processos naturais: em março de 1876 Alexander Graham Bell patenteia o telefone, e, nos Estados Unidos, o presidente Grant, junto com Dom Pedro Segundo, no dia 10 de maio do mesmo ano, inauguram a Exposição Universal da Filadélfia, chamada, pelos norte-americanos, de “Exposição Internacional de Arte, manufaturas e produtos do solo e das minas”. Em fevereiro de 1878 Thomas A. Edison patenteia o fonógrafo; e, no Brasil, na medida em que os negros vão sendo liberados por pressão da Inglaterra que se industrializa, começa a imigração europeia para substituir a mão de obra escrava, agora relegada ao cortiço: o Império se arruína e a República se esforça por nascer. 
            
Entre 1930-33 o ciclo, iniciado em 1850, atinge a sua fase minguante e Urano, em Áries, quadra Plutão, em Câncer, no ano em que Tombaugh o avista. Desmantelam-se os indivíduos e as individualidades, engolfadas pela multidão comunista ou nazista, quais formigas em migração, devorando tudo o há pela frente. Hitler torna-se chanceler no fim de janeiro de 1933, diminuindo o indivíduo em função de uma totalidade biológica, enquanto Stalin, no Leste, diminuía o indivíduo em função de uma totalidade ideológica. Aqui começa a dança da morte em que o último passo será dado em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.

             Urano volta a conjuntar Plutão em 1965/66, caracterizando o que veio, depois, a ser chamado de “anos 60”, onde Beatles, Rolling Stones, João Gilberto, Tim Maia e Roberto Carlos, os Mutantes, Caetano e Gil, Chico Buarque e Milton Nascimento compõem a trilha da Revolução, que todos amam. Nascem as multinacionais, geridas por generais, e o grande exércitos, gerida por executivos: cada unidade norte-americana, no Vietnam, deve apresentar uma determinada cota ou produção de vietcongs mortos num tempo determinado; se espalham o roquenrol, o sexo e as drogas, anos loucos em que todos se engajavam à esquerda ou à direita, com russos comunistas ou americanos capitalistas, e a luta era conduzida em cada esquina do mundo, o que, depois da queda do muro de Berlim e da derrota dos russos, se transforma no que hoje se chama de terrorismo.

             Agora, entre 2012 e 2015, Urano, em Áries, faz uma quadratura crescente com Plutão, em Capricórnio, significando, ao contrário dos anos 30 do século passado, a afirmação do indivíduo sobre o grupo em que nasce e morre. A fragmentação da multidão em milhões de usuários particulares virtualmente conectados se impõe sobre as massas que, no século vinte, iam às ruas sob uma bandeira qualquer, e, agora, muitas bandeiras distintas se juntam nas ruas em movimentos cada vez mais fugazes, efêmeros, na velocidade eletrônica. Se lá nos anos trinta do século passado a coletividade se impôs sobre o indivíduo, aqui o indivíduo particular se impõe sobre a coletividade, produzindo uma sensação de anarquia e caos em relação às estruturas com as quais se está acostumado a lidar. Cada um persegue o seu próprio desejo e prazer, e a velha sociedade civil se torna apenas uma função desses desejos particulares irreprimíveis, porque altamente estimulados pelo comércio que domina sobre a agricultura e a indústria: o consumo e a produção das coisas obedecem à troca universal, ao tráfico internacional de tudo que possa ser traficado, e a guerra se torna trivial, local, sem campo de batalha definido. 

             Nas décadas de 1850 e 1960 a teoria e prática se articulam de modo simples e direto, e todos têm a certeza de que as suas ações concorrem para um grande acontecimento: em 1850, da excelência industrial e mecânica, que atinge o máximo na Grande Guerra (1914-1945) e, em 1960, da comunicação universal, da excelência ética, da transparência libertária que agora se acinzenta, amortalha. Mas, em 1876, 1933 e 2012/15 a teoria e a prática estão separadas, ou se deseja ou se pensa, ou se move pela paixão ou se move pela razão, e não se consegue, como nos anos 50 do século XIX e nos anos 60 do século XX, articular a duas realidades numa conduta revolucionária, adequada às transformações mecânicas e eletrônicas em curso.

             No dia 16 de março de março de 2015 ocorre o último dos sete encontros de Urano com Plutão na quadratura atual, e, nos anos de 2016 e 2017, Saturno, em paralelo com Plutão, aprofunda de forma intensa as determinações até aqui definidas. Como se, esvaziado de pensamento e desejo, alguém visse, pela primeira vez, o mundo ao redor de si, vazio, só potência de ser. 

              Entre março e junho de 2015 os inícios se apresentam para todos nós, configurados pelo trígono de Júpiter com Urano em 3 de março e 22 de junho (Saturno em trígono com Urano em dezembro de 2016), assim como pelas conjunções de Marte e Sol com o próprio, em 11 de março e 6 de abril; nesses dias se intensifica o desejo do novo e do inusitado, do corte inaugural de uma sequência qualquer. Júpiter em Leão e Urano em Áries simbolizam a resolução do enigma proposto pela quadratura nesses últimos anos, como se a vontade o conhecimento de cada um e de todos fossem submetidas a certo acordo: já que agora e sempre nenhum desejo se sacia e nenhum pensamento se sustenta, quem sabe se pode inventar outro mundo, abrir outro caminho, nem tanto ao céu e nem tanto ao inferno, nem tanto ao oriente nem tanto ao ocidente. Jamais à esquerda burocrática do “deixa que o Estado cuide de ti”, revolucionária, tampouco à direita informal do crime organizado. Na segunda metade do ano aumenta a tensão entre Júpiter e Saturno (3/7/15, 23/3 e 26/5/16) e entre Saturno e Netuno (26/11/15, 18/7 e 10/9/16), que simbolizam quedas e quebras, assim como confusão, depressão e desorientação. Mas, também, apenas os problemas que decorrem necessariamente das afirmações que se pode fazer entre março e junho. 

            Nesse mundo enredado, quanto mais descentralizado, flexível e adaptável for o laço entre o exercício do poder e o cultivo do pensamento, maior será a capacidade de sobrevivência e mesmo de construção novos caminhos sobre esses tão antigos em que agora desandamos. Um Estado centralizador, burocrático, pesado e venal, tende a explodir ou, no pior dos casos, definhar sobre a falta de sentido que adoece a todos que não conseguem escapar ou se defender de sua virulência. A relação política, que é relação de forças, tende a ser descentralizada, informal, leve e clara, sem a necessidade das figuras, ícones e desenhos com que agora se sujeitam crianças à universal comunicação, Espírito Santo finalmente redimido da vontade e da sabedoria, conexão absoluta dos componentes da matilha, do bando felino e do cardume nas águas. 

Notas
1. Rosa, Guimarães, Grande Sertão: Veredas, Nova Fronteira 1985, p. 390.
2. Eco, Umberto, O Pêndulo de Foucault, Record 1989, p. 23-24
3. Cf. MATTEUCCI, Nicola. República. In Dicionário de Política. Brasília: UNB, 1986, p. 1.108.
4. Rosa, Guimarães, Grande Sertão: Veredas, Nova Fronteira 1985, p. 390.
5. Eco, Umberto, O Pêndulo de Foucault, Record 1989, p. 46
6. Rosa, Guimarães, Grande Sertão: Veredas, Nova Fronteira 1985, p. 391.
7. Eco, Umberto, O Pêndulo de Foucault, Record 1989, p. 154


Clovis Peres
12 de março de 2015, 18:27
São Leopoldo – RS

Martinismo, Tão Nobre Quanto Raro



Martinismo, Tão Nobre Quanto Raro
Por um S.I.

Caro Amigo Desconhecido,

Se você chegou até aqui e está lendo esse texto, provavelmente tem algum interesse em saber mais um pouco sobre o martinismo. Saber realmente o que seja o martinismo e praticá-lo é tão nobre quanto raro. Se dizemos nobre é pela profundidade e poder de transformação e Iniciação Real que o martinismo possui, apesar de extremamente raro aqueles que o põe efetivamente em prática.

Devido a vasta selva na qual se encontra a multiplicidade de ordens martinistas, ingressar em uma delas não apresenta alguma dificuldade, por mais gloriosa que ela aparente ser. Em se tratando de aparências, este meio diga-se de passagem, é um vasto e produtivo gerador de vitrines e aparências maiores ainda, por sinal nada raro pelo contrário. Neste quesito ao menos a prática aparente é intensa e amplamente demonstrada.

Sobre esse ponto vemos facilmente a exposição de vastos certificados e currículos ditos iniciáticos, com seus nomes apostos com longas e intermináveis siglas após o mesmo. Vejo nisso de imediato algo contraditório quando lembro de sábias palavras:
"Quem é o maior no Reino dos céus?

Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus"
Mateus 18:1-4
Ou ainda nas palavras do filósofo:
Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar. ~ Friedrich Nietzsch
Bom, qualquer um de nós desde tenra idade adquirimos costumes e aprendemos pelos exemplos que nos foram passados, ou seja, há diversas formas de se ensinar alguem porém é pelo exemplo dado que realmente transmitimos algo realmente válido e é por essa mesma transmissão de nossos antepassados que crescemos e atingimos o "céu" de nossa evolução espiritual, neste caso. Nisso tanto Mateus como Nietzsch que em outras palavras no sentido contrario, dizem que quanto maior e mais aparecer, de fato menor se é.

Aqui já se nota a extrema importância dos antepassados seja na familia ou mesmo no martinismo o qual chamamos de LINHAGEM. Certificado não é linhagem, é apenas papel. Linhagem como ja dito é a transmissão espiritual dada a quem recebe em forma de exemplos, atitudes, posturas e o aprendizado da Arte muito conhecido na relação Aprendiz-Mestre, ou entre os orientais Chelas-Gurus. Maus exemplos geram mau aprendizes que futuramente irão gerar mais maus mestres em um círculo vicioso.

Nesse ponto são válidas as premissas éticas básicas em uma sociedade civilizada, caráter assim como a boa educação, tratamento interpessoal, inteligência emocional e também de suma importância os princípios MORAIS. Se a ordem ou o dito iniciador que você está a procurar falta com alguns desses pontos básicos, fuja pois é uma tremenda gelada, assim como se um dia escutar coisas como "Eu apenas deixo a iniciação a disposição de todos" ou "Eu sou a Ordem", mais gelada ainda pois Mestre que se digne, irá lhe acompanhar por todos os passos que por ventura der dentro da Ordem, mete a mão na massa!

Voltando ao martinismo e sobre o "Ser" e o "Aparecer", de fato SER requer antes de mais nada uma boa educação, bons exemplos recebidos e acima disso a prática sincera; SER é se tornar naquilo que se deseja. Requer esforço, trabalho e muita paciência.

Já o "Aparecer" é o caminho curto e oposto do anterior; não se requer esforço nem trabalho; não há o desejo de se tornar naquilo que se busca e na maioria dos casos, há forte contradição entre aquilo que se é no momento e naquilo que se quer aparentar Ser. A isso damos o nome de HIPOCRISIA. Ou seja, não faz o que se prega, pelo contrário.

Assim o amigo que busca pelo martinismo, precisa estar atento nessa miríade e multiplicidade de instituições, grupos, ordens e personagens que "misteriosamente" se destacam e acabam aparecendo por demasia. Procure sempre ter como referência o exemplo vivo e não a letra morta, o papel aceita qualquer coisa.

Não é se entrando numa ordem ou em um grupo que você se tornará assim por dizer, Martinista. Até mesmo porquê lá você encontrará pessoas assim como você, com as mesmas ou até mais imperfeições, medos, anseios e que diferem apenas no tanto que ja leram, mais nada. Todos procurando (ou deveriam) se tornarem uma pessoal melhor dia após dia.

Martinista se faz se tornando naquilo que se deseja, estudando e colocando em prática os ensinamentos e trabalhando sua personalidade. Os grupos ou uma Ordem lhe dará apenas um papel ou uma carteirinha onde confirma sua inscrição nela (papel aceita tudo lembra?) esse é o "Aparecer". O martinista verdadeiro abomina a hipocrisia e deixa de lado as roupagens ilusórias dos graus e títulos e demais vaidades naturais a todos que desejam apenas "aparecer". Assim meias-verdades, mentiras, egos inflados e tudo mais inerente aos aspectos grosseiros das pessoas comuns, não tem vez em um martinista sincero. Claro que aqui todos nós estamos de certa forma doentes, seja fisica ou espiritualmente e longe da perfeiçao estamos, porém o que diferencia um real iniciado aquele que opta pelo SER, é que esse sabe seu defeito, mas usa sua VONTADE e opta com esforço em agir ao contrario, transformando o defeito em virtude. 

As ordens místicas são como hospitais, são para doentes e não para iluminados!

O grande desafio em toda linha de pensamento está simplesmente em SER aquilo que se diz; Pensamento - Vontade - Ação. Sem dúvidas nesse caminho terá várias dificuldades, pois a cada vitória irá comemorar sozinho e ninguem lhe dará parabens por isso; ninguem irá lhe coroar com folhas de louro ou com bottons e pins sua conquista.

Então a expectativa deve ser essa, de se estar entrando num hospital junto com outros Irmãos com diversas doenças cada um, saber lidar com isso e procurar o remédio que lhe trará a cura, em nosso caso a Iniciação. Assim tudo é apenas um grande aprendizado em não apenas nos transmutar mas também, em adquirir a paciência, a tolerância e quiçá, uma caridade pelo Irmão ao nosso lado.

Seja sincero com sua busca interna e vá adiante, no caso no martinismo não é a ordem que te fara um martinista, mas aquele que aplica os princípios de Saint-Martin, Pasqually e Boehme em sua vida diária, a cada minuto do seu dia. A iniciação dada aqui por homens é apenas protocolar, a Iniciação Real é dada somente pelo único Iniciador que existe, do Alto.

Pesquise, comente, troque informações a respeito da dita Ordem Martinista que você procura, são várias, umas mais sérias e outras motivo de piadas, umas focada realmente na regeneração outras na "contra-iniciação", umas mais puras outras com elementos de esquerda e com coisas que beiram serem alienígenas.

Assim não olhe para a coroa aparente que alguem ou ordem ostenta, lembre-se que o Cálice sagrado está no Interior, em Ser e não Aparecer.

Espero assim que encontre seu caminho, foque em seu interior e procura algo que lhe agregue valor, se for para atrapalhar melhor ficar sozinho.

Quem faz seu caminho é somente você mesmo mais ninguem.

DEFININDO A PALAVRA "MARTINISMO"



DEFININDO A PALAVRA "MARTINISMO"
Por um S.I.

Temos recebido vários contatos questionando sobre o significado da palavra "martinismo", notamos um certo padrão nas mensagens com conceitos errados. Palavras similares mas que em essência são muito diferentes e que geram muitas confusões.

Nota-se ainda que pela multiplicação de ditas "Ordens Martnistas" disso ou daquilo além da conferência indiscriminada de "Graus", muitos iniciados e até mesmo outros portadores de vários títulos, desconhecem por completo o que seja o próprio martinismo e suas "linhas" de estudo e trabalho. Devido a esse despreparo e desleixo de certos "Livres-Iniciadores", vemos cada vez mais aumentar o número de iniciados totalmente perdidos nessa vasta selva de pseudo-ordens e iniciações.

Focaremos hoje apenas na definição da palavra "Martinismo", que mesmo em nosso meio não há ampla aceitação protocolar desses conceitos.

Vamos tentar abaixo definir algumas para que no futuro possamos nos situar nos diversos contextos possíveis.

Tudo começa com a similaridade de dois grande nomes do passado: Martines de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin. Confusões enormes  foram geradas pelo "Martines" e pelo "Martin" de seus  respectivos nomes.

Sobre o termo "Martinista":
Analisando históricamente dentro dos livros mas principalmente entre as cartas trocadas na época, entre Saint-Martin, Pasqually, Willermoz e vários outros, saberemos que a palavra "Martinismo" não estava presente. De acordo com Franz Von Baader, algumas vezes Saint-Martin usou termo "Martinista" para se referir àqueles de sua "antiga escola" ou seja os Elus-Cohen a qual se desligou rumo à via interior da teurgia interna; portanto o termo martinista estaria relacionado aos estudantes dos ensinamentos Elus-Cohen de Martines de Pasqually, praticantes da teurgia externa ritualística.

Após a saída de L.C.de Saint-Martin de todos os grupos maçônicos inclusive dos Elus-Cohen, e com a morte no Haiti de Pasqually, essa ordem sofre com a falta desse e suas instruções particulares, muitos migram para outras ordens e seus membros ficaram esparsos. Willermoz tenta incluir alguma coisa da teoria Cohen dentro da estrutura do recém criado Rito Escocês Retificado. Aproximadamente na mesma época Saint-Martin encontra os livros de Boheme e se dedica a sua busca mística, longe da teúrgica.

Muitos anos depois varios historiadores e pesquisadores "maçônicos" e "martinistas" dentre os quais Papus, frequentemente confundem os termos "martinistas" e "martinismo" ao se referir uma hora a Pasqually outra hora a Saint-Martin, mesmo quando escreve seu livro intitulado "Martinismo, Martinezismo, Willermozismo e Franco-Maçonaria".

Desde então não chegamos a uma definição amplamente aceita de quais termos corretos a serem usados. Entretanto vemos na literatura em francês alguns textos que ajudam a nos orientar. Por fim adotamos os seguintes termos abaixos:

"Martinista": Nome genérico dado atualmente a algum estudante de ordem ou grupo ligado ao martinismo em geral ou uma de suas "subdivisões" (conforme veremos abaixo), seja estudante de uma ordem martinista específica, de um grupo independente ou mesmo como estudante livre. 

"Martinismo": O conjunto da obra composta em essência pela influência Elus-Cohen de Pasqually e seu livro Tratado da Reintegração dos Seres, com a essência dos diversos livros de Louis Claude de Saint-Martin com sua infleuncia de Jacob Boehme. Atualmente é o termo usado pela maior parte pelas diversas "Ordens Martinistas" estruturadas e hieraquizadas. Há grupos independentes e silenciosos detentores da linhagem ininterrupta, que também podem definir seus trabalhos como martinismo.

"Martinezismo": Este termo se refere em sua maioria às práticas teúrgicas e ritualísticas cerimoniais especificamente as apresentadas dentro dos Elus-Cohen por Martines de Pasqually. É o caminho operativo. Aqui com este termo não nos referimos à filosofia mistica de Saint-Martin ou de Boehme ou sua influência.

"Willermozismo": Termo pouco empregado atualmente, mas em sua essência podemos defini-lo como a base de formação do que veio a se tornar o Rito Escocês Retificado, um dos varios ritos maçônicos o qual Jean Baptiste Willermoz procurou incluir alguns aspectos superficiais dos ensinamentos Elus-Cohen, em especifico nos graus de, Professo e Grande Professo (Graus inexistentes na atualidade). Não há práticas teúrgicas e o pouco que restou de Cohen, esta diluido ao longo do rito culminando no grau CBCS ou Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa. É um rito maçônico com ênfase na orientação cristã e na prática da Caridade (ou ao menos deveria ser). Muito incorreto estão afirmações de que L.C.de Saint Martin teria colaborado de forma muito ativa com a formação de instruções desse rito; já que o mesmo se desligou da maçonaria e nas reuniões da loja de Willermoz, ele se fazia presente ocasionalmente pela consideração que Saint-Martin tinha com esse.

"Saint-Martinismo" ou "Saint-Martinista": Muito utilizado atualmente por vários grupos que buscam unicamente pela filosofia mística, da teurgia interior de Louis Claude de Saint-Martin, alguns ligados ao "Bohemismo ou Behemismo", filosofia de Jacob Boehme. O Saint-Martinismo é focado no estudo dos livros de Saint-Martin e livre totalmente de práticas teúrgicas cerimonialistas dos Elus-Cohen ou do Rito Escoces Retificado. Ao contrário dos sistemas anteriores, esse é um sistema interior chamado de "Via Cardíaca" (outro termo muito confundido com a Via do Coração).

Apesar de não incluirmos na relação dos tópicos anteriores, podemos citar também o termo Papusiano ou outros como "pré ou pós Papus". Vale lembrar que desde a saída de Saint-Martin de todo grupo maçônico, este se dedicou ao estudo dos livros de Jacob Boehme e reunia-se com grupos de buscadores que ficaram conhecidos por Círculos dos Íntimos, onde transmitia seus conhecimentos e o influxo espiritual que detinha a poucos. Essa transmissão feita em um único grau ficou conhecida por "S.I." de forma livre. 

Após a morte de Louis Claude de Saint-Martin, esses círculos de íntimos continuaram seus trabalhos, muitos se dispersaram e transmitiam e repassavam essa iniciação à alguns de seus próximos. Foi assim que essa iniciação chegou a Papus e Pierre Augustin Chaboseau que se recinheceram como detentores da mesma iniciação.

Papus reuniu alguns outros "S.I.'s" livres e com esses formou um Supremo Conselho da então criada "Ordem Martinista", numa estrutura hierarquizada e dividindo a iniciaçao original em etapas formando assim três graus Associado, Iniciado e Superior Incógnito. O termo "Papusiano" refere-se então nesse contexto ao martinismo estruturado, em graus e hierarquizado (lojas, presidentes e oficiais) do qual surgiram as demais ordens martinistas que conhecemos, em contraparte ao martinismo dito "Livre ou Independente", de grupos ou membros remanescentes de linhagem direta dos Círculos dos Íntimos. Como um exemplo citamos os martinistas livres da Rússia dessa época, os quais com linhagem direta de Saint-Martin sem passar por Papus.

Há necessidade de se escolher com muito cuidado a palavra que será colocada, ainda mais em se tratando de martinismo que pela sua ampla variedade atual, corremos o sério risco de em determinado momento estarmos usando termos até mesmos opostos ao seu significado real de origem.



A LINHAGEM RUSSA




Estando abaixo o texto em conformidade com a linha de pensamento de nossa cadeia de Superiores Incógnitos, os quais nos consideramos Servidores Incógnitos, publicamos para fins históricos.
~ por um S.I.

A LINHAGEM RUSSA
Por OMCC-RJ

Louis Claude de Saint-Martin entre suas inúmeras viagens de cunho místico, esteve na Rússia e reuniu naquele país um seleto círculo de discípulos, onde poderemos encontrar vários membros da aristocracia, dentre eles: Barisowitz Galitzin (iniciado em 1780 na Suíça), o príncipe Alexander Barisowitz Kurakin e os Condes Norkov e Vasily Nikolaievich Zinoviev, o professor universitário Ivan G. Schwartz, o príncipe Tcherkasky, o brigadeiro Tchukow, o doutor Bagrinasky, o Conde Alexei Kirilovich Razumovsky entre inúmeros outros. Podemos dizer que da última década do XVIII até a Revolução Russa de 1917, a cadeia de S.I., foi composta pela “nata” da nobreza, sábios, membros do alto clero, escritores, etc.

Na segunda metade do século XIX, os Martinistas mais notáveis foram: F. Labzine (que tinha traduzido a obra de Saint-Martin, para o russo), F. Posdeev, Speransky, ministro e autor do “código das leis do império russo”, os pintores Brulof e Ivanof, os poetas Joukovsky y Boratynsky, o conde Alexis Tolstoi, e finalmente o célebre eslavófilo Arsenief. Moscou foi no século XIX e o princípio do XX, o centro da Iniciação Martinista; a Loja São João Apóstolo tinha transmitido a espada ritual de Novikoff a Gamalei, de Gamalei a Posdeev, deste a Arsenief, que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef, o qual se converteu em 1911 em delegado geral para Rússia de Supremo Conselho da Ordem Marinista de Paris.

Papus esteve na Rússia em 1901, 1905 e 1906, pois havia encontrado uma linhagem incólume, o que não existia em outros lugares; assim, Papus foi novamente iniciado nesta nova Linhagem; neste meio tempo estabeleceu Lojas do Martinismo recriado, o que trouxe um clima de desconfiança dos S.I. locais, que a consideraram uma “Ordem apócrifa e espúria”.

Por um período de nove anos após a Revolução Russa de 1917, a cadeia dos S.I. não sofreu qualquer perturbação, pois não representava perigo ao novo sistema.

Embora as condições fossem as mais desfavoráveis possíveis, a linhagem não foi interrompida; os trabalhos continuaram até que em 1930, nova investida foi levada a cabo e nesta, novos Irmãos foram fuzilados, sem nenhum tipo de julgamento. O Soberano Capítulo “Santo André Apóstolo”, continuou seus trabalhos até o ano de 1920, por parte do Irmão Sergei Marcotune, quando foi exilado na França. Devemos lembrar que Serge foi o Iniciador de Armand Toussaint, em 1930, criador da OMCC. (...)

INICIAÇÃO, O REMÉDIO DA QUEDA


INICIAÇÃO, O REMÉDIO DA QUEDA
por Ary Ilha Xavier

A história das origens conta-nos que o mal e a morte são uma conseqüência da queda do Homem Primitivo e que nós somos seus legítimos herdeiros. Por essa razão, não gozamos somente do acervo dessa herança, mas também de todas as conseqüências desse estranho legado.

Ora, se foi da queda do Homem Primitivo, do descenso do espiritual até o material, da Involução, que aparece para o homem a necessidade, a limitação, a escravidão e todos esse efeitos, tais como o erro, o vício, a obscuridade e a morte, é necessário admitir que essa queda trouxe em sim mesma, e potencialmente, o remédio capaz de reparar  mal.

Se isso não fosse verdadeiro, o homem estaria condenado para sempre a uma morte eterna, isto é, sua queda seria eterna e ele estaria perdido para sempre. Mas, sabemos que isso não é assim. O Homem Original caiu, é verdade, mas é necessário antes de tudo atribuir a essa queda seu sentido real.

É necessário, ainda, admitir, a priori a origem divina do homem e, por conseguinte, seu estado de pureza e perfeição anteriores à queda. Não seria necessário, para um exame apriorístico, que estudemos as razões determinantes dessa queda: basta admiti-la.

Esse homem primitivo, nós o sabemos, era unitário e múltiplo ao mesmo tempo, inteiramente equilibrado e perfeito. De sua unidade, entretanto, algumas partes desprenderam-se e foi exatamente essa "rebelião" que ocasionou seu desequilíbrio e sua fragmentação. Foi assim que desse corpo imenso e glorioso desprenderam-se um número quase infinito de células que se projetaram no espaço vazio da noite dos tempos.

Dessa maneira,o Homem Original fragmentou-se e, desde então, saindo de sua unidade original e eterna, ele modalizou-se, passando da unidade ao número, multiplicando-se através da noite dos tempos, distanciando-se cada vez mais de sua fonte e de sua pureza.

E o espírito, dardando na imensidão do espaço, com uma centelha que se desprende de um braseiro infinito, perdeu-se nesse caleidoscópio multiforme e desceu até a materialização. E, nessa descida, nessa involução progressiva, ele veio modalizando-se e vestindo-se pouco a pouco de matérias espargidas ao longo dessa trajetória imensa, para, ao longo de sua queda gigantesca, sentir-se animalizado e grotesco, sujeito à Roda Fatal do destino inexorável das próprias vestes que escondiam a vergonha de sua culpa.

Foi, então, que o homem e sua companheira constataram que eles estavam nus, dizem as Santas Escrituras. Deve-se compreender, entretanto, esse nu no seu sentido verdadeiro, aquele que está escondido sob o véu desse símbolo. Com efeito, o homem antes de sua queda era um ser espiritual e expressava-se por seu corpo glorioso, irradiante de luz! Em razão da queda, ele foi revestido de um corpo material e, por conseguinte, tornar-se nu... de Luz! Eis que sobre ele desceu o véu espesso da materialidade.

Caído e corrompido, o homem adquire consciência de seu estado profundamente lamentável e triste, vindo em sua mente uma fraca reminiscência de seu estado primitivo. É essa pálida lembrança da Luz que o faz compreender as Trevas dentro das quais ele se encontra profundamente mergulhado. É aqui que a Evolução começa; e o homem, sentindo o peso de sua cruz, liberta um primeiro gemido! É o primeiro grito para sua liberdade!

Expia agora "oh! Divino Prometeu - como diria Eliphas Levi -, a glória efêmera das ilusões quiméricas, responsáveis de tua queda, tendo um abutre a devorar as tuas próprias entranhas".

Mas, esse homem já adquire consciência e, por essa razão, podemos acrescentar à sentença formidável do Mestre: ... "e que a dor dilacerante de tuas vísceras desperte, enfim, essa centelha que jaz adormecida e sem brilho no mais profundo de teu ser ... Então, rompendo os laços materiais que te acorrentaram depois de tua "rebelião", tu reencontres a consciência de ti mesmo e, olhando-te no espelho cristalino de tua própria alma, contemples a imagem negativa de teu ser! Tu verificarás, assim que teu Destino é a Liberdade, a emancipação, a Verdade e a Vida Eterna ..."

Eis que surgirá, então, do interior o Homem de Desejo, apto para a Iniciação ... Sim, a Iniciação é o remédio que estava contido na própria queda, visto que o homem não desceu só, mas arrastou consigo a própria Divindade ..."

Ary Ilha Xavier

A PALAVRA DOS INICIADOS - A PRÁTICA


No texto abaixo o buscador poderá ver em poucas palavras, um vislumbre ou o início do que chamamos de a "Via Cardíaca", do silêncio e da introspecção; assim como da "Via do Coração" como dito em uma linhagem budista, a via da prática dos preceitos e não da letra morta a "via do olho" intelectualizada e pouco realizada. ~ Por um S.I.

 "A PALAVRA DOS INICIADOS"
por Carlos Aveline

"No aprendizado espiritual de nada adianta usar de hipocrisia. A meta é aprender e não adotar a pose de quem sabe. A sabedoria divina revela-se sobretudo no coração do aprendiz  através da boa vontade, da tranquilidade, do contentamento e da gratidão.  Os pensamentos  e os sentimentos que ele tem em relação a si mesmo e ao Todo  refletem a natureza que é cultivada no seu dia-a-dia.

Aspirar ao aprendizado é  seguir a via do autoaperfeiçoamento, do sacrifício e do otimismo. Renunciando ao culto do egoísmo e adorando o bem, ele traz esperança para si e para a humanidade.  Sacrificando os desejos pessoais, o peregrino conhece a verdade e assim se liberta da ignorância e da ausência de luz. A verdadeira escola esotérica é interna e é através da sinceridade e da pureza que o peregrino pode ingressar nela".

COMEMORAÇÃO DE NASCIMENTO DE LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN



Comemoração de Nascimento de Saint-Martin
Pelo irmão +Tácitus

Em 18 de janeiro de 1743 nascia Louis Claude de Saint-Martin, o Filósofo Desconhecido ou melhor um deles.

Sua biografia é largamente publicada na internet em diversas línguas sob diferentes aspectos, além de estudado dentro de diversos círculos e grupos martinistas atuais.

Para conhecer "Martinismo" é preciso conhecer Saint-Martin, não apenas sob o enfoque histórico ou suas afiliações, essas as quais foram rompidas em determinada época da sua vida. É necessário conhecer Saint-Martin em sua "forma de pensar" e sua conduta, isso sem dúvidas vale tão quanto seus valiosos livros, ou ao menos nos auxiliará em o entender.

A maior contribuição que este Iniciado nos legou talvez seja, sem sombras de dúvidas, o fato de que a Iniciação Real é interior, única e pessoal, que há um único real Iniciador e que chegamos a ele, única e exclusivamente conforme nossos méritos conquistados pela auto-transformação sincera e focada, desde nossos pensamentos até o que falamos e o que fazemos.

Saint-Martin nos coloca frente a verdadeira escola iniciática: A Escola da Vida, com seu dia a dia e seus pormenores, escola essa em que todos aprendem e se elevam, a escola que nos coloca realmente frente a oportunidades da Iniciação.

Seu rompimento com as escolas iniciáticas deve-se unicamente a isto: trilhar o caminho interno, místico em busca do Real; muitas vezes em contra-posição ao externo, virtual rebuscado de teorias, títulos, cargos, graus e meros papéis sem valor algum.

Para Saint-Martin a via cardíaca era isso: comunhão, de nós como que há de mais elevado, nosso Eu Superior o qual chama Yeshuá; a via cardíaca é a escola do Sentir, reflexo e consequência do que pensamos e fazemos.

Assim meu caro, se quer saber como está sua "espiritualidade" e se está rumo a "Iniciação Real", analise seu coração e se nele há de fato, algo que o incomode, tome consciência da qualidade de seus pensamentos e tenha certeza que a causa ali está.

A Via Cardíaca também é a sinceridade na Busca, sem auto-ilusões daquilo que buscamos externamente e recebemos por ela, longe dos certificados da dita iniciação conferidos por homens que em sua maioria, estão longe do caminho interno, presos ainda a forma e não essência.

Saint-Martin nos propôs várias coisas, várias janelas ou portas indicando o caminho, ele mesmo dizia que seus próprios livros deveriam ser abandonados. Apesar de utilizar termos ocidentais ele nos mostra o tamanho desapego das formas em sua Busca. E foi isso que à partir de determinada época, transmitia aos seus dentro do Círculo dos Íntimos, a sinceridade na busca, a auto-transformação, o silêncio e a comunhão, sempre de forma incógnita.

A este Filósofo Desconhecido deixamos aqui nosso reconhecimento e gratidão pela sua obra, porém mais pelo seu exemplo e pela sua postura frente a espiritualidade.


INICIAÇÃO - ROBERT AMADOU


INICIAÇÃO
Robert Amadou

A Iniciação se define como a passagem a uma outra-maneira de ver, de viver e de agir; a entrada em um outro-lugar real – real, mesmo, por excelência. Desta realidade, da eficácia da Iniciação, a Humanidade é testemunha desde suas origens.

Hoje todos concordamos sobre o fenómeno da Iniciação: trata-se de um conjunto de ritos e ensinamentos, um conjunto de símbolos que provoca uma modificação radical na posição religiosa e social do indivíduo. Trata-se de uma ‘mudança ontológica no regime existencial’. O Iniciado é um outro... Um convite a ser verdadeiramente eu... O Iniciado sabe que a verdadeira vida é do outro lado. Ele não foge, nem para frente, nem para trás. Ele se aprofunda.

O cenário da Iniciação é quase constante: as provas, uma morte, uma ressurreição. Ou ainda um novo nascimento.

O Iniciado é um outro. Ele passou da ignorância ao saber, à ciência. Mas, qual ciência? Qual saber? Primeiro, ele sabe que abandonou a ignorância. Diz-se que passou da natureza à cultura. Que seja. Mas foi para ser e para compreender a natureza e compreender que a compreende. Para penetrar em seu interior paralelamente à entrada em si-mesmo. No esoterismo de-si e no do mundo. Na raiz comum. A Iniciação é descoberta do sentido profundo, de um outro valor que não o sensível, de verdadeiro valor do sensível. É uma revelação sobre o sagrado, sobre a morte, sobre a sexualidade; sobre o mundo e sobre mim; sobre a sociedade; sobre minhas relações com os outros e com a natureza que é simplesmente um outro...

A Iniciação revela, ao mesmo tempo, a dimensão cósmica da existência humana e a dimensão interior do homem. O homem e o mundo são análogos – micro e macrocosmo. Pode-se também dizer microantropo e macroantropo. O homem está em harmonia com a Natureza porque, em imaginação, experimenta seus vínculos com ela. Tudo é mito; tudo é símbolo.

Robert Amadou

A LIVRE INICIAÇÃO - JEAN CHABOSEAU


A LIVRE INICIAÇÃO
Jean Chaboseau


O texto que se segue foi escrito pelo Amado Irmão Jean Chaboseau:

“Nosso lembrado Irmão Augustin Chaboseau ( co-fundador da primeira Ordem Martinista administrativamente organizada juntamente com Papus, e é importante salientar que Documentos da época de Papus atestam que Papus e Augustin Chaboseau iniciaram-se mutuamente, unindo as duas correntes de que eram depositários, para não deixar dúvida quanto à legitimidade das iniciações que portavam e que remontavam a Saint-Martin. ) escreveu algumas notas sobre o que chamou de sua “Iniciação” pela sua tia Amélia de Boisse-Montemart, que não deixam a menor dúvida a respeito, tratava-se unicamente da transmissão oral de um ensinamento par­ticular e de certas compressões das leis do universo e da vida espiritual, o que em nenhum caso pode-se considerar uma iniciação ritualística propriamente dita. As linhas que uniram Augustin Chaboseau, Papus e outros e que provém de Saint-Martin são, com efeito, linhas de afinidades espirituais...”

“É justamente neste ponto que aparece a profunda contradição existente, de um lado, entre o desejo de liberdade interior que deve desprender-se de todo formalismo para permitir à personalidade espiritual estabelecer-se e definir-se fora de toda classe de coletivida­des e, de outro lado, esta espécie de desmentido ao anterior que parecem aportar certos ocultistas dos fins do século XIX, ao criar suas associações, Ordens e Sociedades.”

“Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro Martinista, é aquela afinidade entre espíritos unidos por um mesmo grau em suas possibili­dades de compreensão e adaptação, por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências, de tudo o qual se segue a constatação obrigatória de que o Martinismo está com­posto, exclusivamente, de seres isolados, solitários, que meditam no silêncio de seu gabinete, buscando sua própria iluminação.”

“Cada um destes seres tem o dever, uma vez que adquiriram o conhecimento das leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão adquirida ao seu redor, a fim de que aqueles que forem chamados a compreender, participam daquilo que ele cria, por sua vida espiritual ou pela verdade que encerra. É aqui, então, que intervém a “missão de serviço” do Martinismo e é somente neste sentido que esta corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição Ocidental.”

“É isto é tão verdadeiro que sempre se manteve nos diferentes Ramos Martinistas, o regime da Iniciação Livre, em forma paralela àquela que se conferia nas Lo­jas, como uma recordação daquela liberdade individual de que dispunha todo verdadeiro Martinista e que, em princípio, está por cima de toda “Obediência”.”

Em conseqüência, existe uma grande contradição entre o espírito digno e livre do nosso Venerável Mestre Saint-Martin, de seus sucessores, os “Superiores Incógnitos”. e a atitude de alguém que se sentiu o exclusivo depositário da Tradição do Filósofo Desconhecido, declarando-se possuidor da categoria de regulador supremo desta Iniciação e o único Martinista regular, excluindo a todos os que não o seguissem.

Ainda mais, devemos recordar que cada Filósofo Desconhecido ( também chamado de Livre Iniciador ) ou Presidente de Grupos ou Lojas Martinistas pode dar à sua coletividade a orientação espiritual que julgue mais conveni­ente, de acordo com sua consciência, conhecimento e experiência ( logicamente arcando com a responsabilidade de seus erros e enganos)

Jean Chaboseau, ex-Grão Mestre da Ordem Martinista Tra­dicional, continua afirmando:

“As distensões de toda espécie nada mais são do que a prova da ilegitimidade fundamental de toda Ordem Martinista oficializada.”

“Sinceramente desejo, em razão desta circunstância, que o Martinismo volte a ser o que sempre devia ter sido: uma simples associação de espíritos unidos pelas mesmas aspirações espirituais e guiados pelas mesmas investigações, sob a luz do Cristo... fora de toda e qualquer preocupação de Ordem ou Obediência.”

“O Martinismo é essencialmente Cristão. Não se pode conceber um Martinista que não seja um fiel discípulo de Jesus Cristo ( Yeschouá) , o Salvador e Reconciliador, Encarnação do Verbo!” ( É importante esclarecer que o conceito Martinista de Jesus, o Cristo, está mais próximo ao gnosticismo e a corrente Joanita Rosacruciana ou Cristia­nismo Esotérico da Igreja de João ). “Porém, parece que um grande número de Martinistas não esteve, ou não está compenetrado deste espírito perfeitamente universal na mais ampla significação do termo. Desejando singularizar-se, particularizar-se, desejando presidências, Grão-Mestrados, títulos, graus e honras, em nome de um Filósofo no qual a modéstia e a sensibilidade eram proverbiais, parecem ter esquecido um dos primeiros princípios ou precei­tos cristãos... “

Sabemos que os Grupos e Lojas Martinistas para seu bom funcionamento, de­vem ter sua diretoria, oficialidade, regulamentos, etc... Mas essa estrutura deve permanecer sempre enquadrada dentro dos limites essenciais e genuínos ao espírito do que chamamos Martinismo. Ele está em contradição com as vaidades, ambições, ansiedade em escalar graus, colecionar títulos e dignidades iniciáticas; são atitudes que revelam falta de maturidade espiri­tual.

O verdadeiro Martinista é um ser silencioso, humilde, tolerante e compreensivo.

Vale lembrar que nosso Venerável Mestre Saint Martin nunca foi “Martinista” pois o Martinismo nasceu de seus seguidores que foram iniciados pelo Filósofo Desconhecido no sistema de Iniciações diretas nos chamados “círculos de Íntimos” , portanto , mesmo os mais exaltados defensores do Martinismo administrativamente organizado em Ordens formais, teve invariavelmente sua corrente iniciática proveniente de um grupo independente.

Se o Martinismo pode ser praticado com sucesso em organizações independentes no passado porque não o pode hoje?

As Ordens oficialmente organizadas são a mais importante forma de trabalho Martinista, são muito mais efetivas, abrangentes, seguras e certamente tem os melhores resultados, mas nós devemos reconhecer e respeitar aqueles que escolheram um caminho diferente e mesmo assim continuam sendo nossos Amados Irmãos e agentes do Invisível.

DISCURSO DE INICIAÇÃO AO S.I. - TRECHO






DISCURSO DE INICIAÇÃO AO S.I.
Stanislas de Guaita

"(...) Nós te oferecemos o começo, e aqui termina o papel de teus Iniciadores. Se tu, por ti mesmo, chegares à compreensão dos Arcanos,, merecerás o título de Adepto. Deves, entretanto, saber que seria inútil que os mais sábios mestres te revelassem as supremas fórmulas da ciência e do poder mágico; a Verdade Oculta não se deixaria transmitir em um discurso: cada um deve invoca-la, cria-la e desenvolve-la em si.

"Tu és Iniciatus: aquele que outros colocaram na senda. Esforça-te para tornaste-te Adeptus: aquele que conquistou a Ciência por si próprio- em suma, o filho de suas obras (...).

" Se tu queres tornar-te um Adepto impõe ao Eu o mais religioso silêncio para que ele seja escutado; e, então, mergulhando no mais profundo de tua inteligência, escuta a voz do Universal, o Impessoal, Aquele que os Gnósticos chamavam de Abismo." 

~ Stanislas de Guaita

O ORIENTADOR ESPIRITUAL DA ORDEM MARTINISTA




O ORIENTADOR ESPIRITUAL DA ORDEM MARTINISTA
Hermanubis Martinista

Um dos grandes objetivos do Hermanubis Martinista e seus membros é o de trazer a público os textos, os documentos, e principalmente a literatura Martinista que por um motivo ou outro tenha se perdido no tempo ou que seja de domínio público porém pouco divulgado.

Nós dedicamos os últimos meses a uma pesquisa bastante profunda e ampla para trazer aos estudantes a história e as lições daquele que foi o Grande Orientador Espiritual de Papus e consequentemente da Ordem Martinista fundada por ele, estamos nos referindo ao nosso Amado Irmão Mestre Philippe de Lyon.

Para este novo e inédito livro (Mestre Philippe de Lyon – O Orientador Espiritual da Ordem Martinista – Edições Hermanubis) pesquisamos em toda a literatura disponível, os feitos fantásticos, as curas, os ensinamentos, a influencia dele no Martinismo Russo, enfim, toda a influência que Mestre Philippe teve no Martinismo Contemporâneo. Conseguimos reunir em um único volume histórias surpreendentes, lições de vida, ensinamentos profundos, conseguimos até mesmo resgatar de alguns manuscritos escritos por Papus, uma série de discursos proferidos pelo Mestre, documentos estes confiscados pelos Nazistas e resgatados pelo Amado Irmão Philippe Encause, filho de Papus.

Deste novo trabalho, estamos disponibilizando aos internautas, alguns trechos importantes:

... Além de suas curas milagrosas, as predições que efetuava e o conhecimento do passado das pessoas ficou marcado na memória de todos aqueles que o cercavam. Um dia, viajando em um compartimento de um trem, juntamente com um amigo e um bispo, foi desafiado por este último a contar-lhe algo de seu passado ou de sua família.

"Pois bem, disse-lhe o Mestre, vou satisfazer sua curiosidade: há alguns anos, um membro de sua família apareceu enforcado junto à janela e todos acreditaram em suicídio. Seu parente foi assassinado primeiro e depois dependurado para simular o suicídio". O bispo, surpreso, concordou que era verdade, mas se julgava o único depositário daquele segredo de sua família".

Logicamente este tipo de acontecimento o tornou inimigo da igreja, mesmo sendo ele um católico praticante.

Um dia ele negou-se a curar um paralítico. Admirado, Haehl perguntou-lhe porque não curava se tinha poderes para tal. "Acontece que é a segunda existência que esse infeliz está neste estado, mendigando, pois não quer trabalhar”.

Em uma das reuniões um homem arrogante dizia em alta voz que era preciso ser um idiota para acreditar no que Philippe dizia e fazia. Mais tarde, o Mestre chamou-lhe em uma sala contígua e perguntou-lhe porque motivo em tal lugar, em tal hora, tinha estrangulado esta mulher (mostrando-lhe a cena), eu estava a teu lado, disse-lhe. O homem caiu de joelhos pedindo-lhe perdão, e rogando-lhe que não entregasse à polícia. " Satisfaço teu desejo se mudares de vida e se seguires tua religião de nascimento", disse-lhe Philippe. "Se eu seguir minha religião, terei de confessar-me", replicou o assassino. "Não precisa, respondeu-lhe o Mestre, tu já te confessaste a mim e isto basta ". O homem foi embora chorando.

Um dia, em uma das sessões, um camponês saiu precipitadamente de seu lugar e sacudiu violentamente a maçaneta da porta. Mestre Philippe perguntou-lhe se ele queria demolir a casa . "Não senhor, disse humildemente o camponês, eu apenas quero ir imediatamente ao banheiro" . "Então, diga apenas à porta que se abra e ela abrir-se-á". "Porta, abre-te, gritou o camponês ". Imediatamente, os enormes batentes da porta se abriram. Os presentes olharam quem poderia ter aberto a porta. O corredor e a escada estavam vazios. A admiração foi geral e alguns riram, face ao poder do Mestre e a grande fé do humilde camponês.

Certa vez alguém desafiou o Mestre, dizendo-lhe que era capaz de realizar prodígios com sua baqueta. Encontrando-se os dois nos arredores de Arbresle, na propriedade de Philippe, este tomou uma pedra e após marcá-la com um sinal e ter vendado os olhos do desafiante, jogou-a longe e mandou que ele a encontrasse. Isso foi feito em poucos instantes.

"Agora, disse-lhe Philippe, é a minha vez de fazer alguma coisa. Estás vendo que não há nenhuma nuvem no céu e ninguém prevê mau tempo. Pois bem, eu desejo que dentro de 15 minutos caia uma forte chuva sobre toda vila de Arbresle, assim como sobre esta propriedade, e que nenhuma gota de água nos atinja no terraço em que estamos".

Dito e feito. O homem da baqueta desapareceu da vida do Mestre tão logo a chuva passou, alias Mestre Philippe tinha fama de controlar os eventos atmosféricos.

Fatos extraordinários foram contados pelo próprio Mestre: "Certa vez compareceu a reunião um policial alto, louro, mas à paisana. No momento em que roguei a todos que se levantassem, ele permaneceu sentado, com o chapéu sobre a cabeça; enrolou um cigarro e começou a fumar. No mesmo instante, eu vi um anjo que atravessava o teto da sala e que, vindo a ele, marcou-o sobre o Livro da Morte. Três dias após o homem estava morto".

Mestre Philippe curava os males mais inverossímeis e o efeito se produzia instantaneamente, as testemunhas ficavam estarrecidas, ele dizia sempre que não era ele quem agia, mas o Céu, ou seu amigo , a quem podia pedir tudo.

Já na intimidade ele era outro, na presença de um amigo que sentia estar mais próximo dele, entregava-se mais numa calma quase perfeita, que inundava o ambiente.

Certa feita, contou Philippe a seus discípulos, “ o comissário especial das delegações judiciárias, que eu conhecia, pediu-me que desse a um de seus amigos de passagem uma sessão especial, e que eu convidasse apenas gente fina pois seu amigo era pessoa importante. No dia combinado, ele veio com seu secretário e mais duas pessoas, que eram policiais. Na frente da casa havia um contingente de policiais. Eu fui advertido para não realizar nenhuma experiência. Tendo acabado a sessão, o comissário ordenou-me que fechasse a porta, pois tinha ordens de revistar a casa. Ele tomou o nome dos presentes e levou alguns papéis".

Ao mesmo tempo era feita uma revista na casa de vários seguidores do Mestre , onde forçaram as janelas e portas. À noite, disse a Papus, eu tinha decidido punir esse homem. Ele me foi trazido em corpo e em espírito e alguém colocou uma espada em sua mão. Na última hora Mestre Philippe desistiu da punição, isso não valia a pena. Ele próprio caiu de joelhos e orou pelo policial.

Alguém, um dia, lhe perguntou porque tanto trabalho e porque dizia coisas tão belas para auditórios tão medíocres. "Acontece, disse-lhe Philippe, que tudo o que digo e se faz aqui, repercute-se em todo o Universo". Não é este um trabalho tipicamente Martinista? Dedicando tempo, estudo e esforço mental para contribuir para a evolução espiritual do Homem?

Mestre Philippe complementava ainda : "A maioria das pessoas que vêm aqui ficam marcados no Livro da Vida e, após terem recebido um raio de Luz todos ficam mais fortes".

Dizia também que Jesus pedia a seus ouvintes que não pecassem mais e que ele apenas recomendava a todos que procurassem tornar-se melhores a cada dia que passava; pois todo aquele que fica pelo menos alguns instantes com bons sentimentos, mergulhando seu espírito no bem, já se sente melhor. Querem viver bem, com saúde, merecendo a Graça Divina? Pois então não falem mal do seu próximo, costumava repetir o Mestre. Todos têm a obrigação moral de levantar seu próximo, não devendo, portanto, rebaixá-lo com maus pensamentos ou com palavras. Esses atos não só prejudicam o próximo, como se repercutem (choque em retorno) e voltam sobre aquele que os praticou.

Recomendava, também, que todo aquele que tivesse aberto processo contra seu próximo devia parar seu andamento, pois se não está de acordo neste mundo como poderá estar bem no outro?

Ele não curava ninguém que perseguisse seu semelhante. "Teu vizinho quer um pedaço de terreno, dizia ele, afirmando que lhe pertence? Pois dá-lhe! Toda a terra pertence a Deus e o homem aqui em baixo não passa de um ocupante provisório. Após à morte, nada levará. Os herdeiros que trabalham para conquistar o necessário para viver ou para enriquecer se desejarem. A riqueza, dizia, não é um mal em si, pois pode dar ocupação a outras pessoas. O que não se deve é guardar para si sem beneficiar o próximo, mas fazer circular. Não se deve, também, querer o dinheiro como um fim em si, mas como um meio de ajudar o próximo".

Ninguém conseguirá entrar no Paraíso sem ter vencido o inimigo que está no interior de cada um. Esse inimigo fica enfraquecido toda a vez que se pratica o bem ou que se perdoa ao próximo.

Essas pequenas exigências que o Mestre Philippe fazia a todos aqueles que solicitavam um favor (exigências pequenas, porém difíceis) eram conhecidas de muitos, como atesta a seguinte história:

Havia, em Lyon, um verdureiro que vendia a crédito para um grande número de pessoas. O bairro onde encontrava-se instalado era bastante populoso. Um dia ele veio desesperado atrás de Philippe pedindo-lhe que fosse ver seu filho que havia acabado de falecer, vítima da difteria. O Mestre disse-lhe que estaria em sua casa em pouco tempo.

Lá chegando, perguntou-lhe se muitas pessoas lhe deviam dinheiro. Sim disse o verdureiro, veja todas essas contas dos clientes nestes cadernos. Poucos são os que me têm pago.

- E tu exiges o pagamento de todas essas dívidas?

- Não e vou jogá-los agora mesmo no fogo.

O verdureiro jogou os cadernos na lareira, sendo logo devorados pelas chamas.

O Mestre entrou no quarto do morto, onde já se encontravam algumas pessoas. Perguntou-lhes Philippe se já haviam solicitado a algum médico o atestado de óbito. Diante da negativa, Philippe chamou o jovem pelo seu primeiro nome e o mesmo se levantou, então pediu a todos os presentes que nada revelassem do que viram, " porque é proibido fazer milagres".

Este é apenas um exemplo dos milagres documentados pelos seguidores e delatado pelos perseguidores, mas em todo caso, tanto um quanto outro registram a existência do fato em si....

... "A alma é a vida do espírito, o pão do espírito. Ela é uma centelha divina; devemos fazê-la crescer. É necessário que ela se torne um sol em nós. Nossa alma cresce quando progredimos no caminho do bem”

" Antes de descer na matéria, as almas estavam no paraíso e no estado de inocência e, por conseguinte, no estado de não-conhecimento. Elas brincavam como crianças ou como anjos e degustavam os frutos do Paraíso. Deus as fez degustar o bem e o mal, enviando-as no mal sob a influência dos demônios, no egoísmo, para aí crescer na provação e na dor, ao longo dos caminhos impostos. Se o homem não houvesse caído não conheceria nada. Caindo e depois se elevando ele ficará acima dos anjos”

" Quando Deus lançou as almas na matéria, Ele deu a cada uma delas um caminho a percorrer, dizendo-lhes: "Eis o caminho que deveis seguir: desbastai-o e tornai-o livre, pois o Senhor por aí deverá passar". Se soubéssemos o significado dessas parábolas, nos sentiríamos possuídos por um imenso orgulho. Tal caminho está cercado, a cada passo, por inúmeras provas impostas por Deus às almas. Essas provas diferem segundo os caminhos”

"A cada dia que passa, a alma aproxima-se de Deus; e quando ela estiver pronta, aparecerá diante Dele. É preciso que para isso ela seja mais brilhante que o sol; de outro modo, ela não poderia resistir. É por isso que é necessário sofrer. Somente o sofrimento pode enobrecer a alma; é o único modo de avançar. Nossa alma é julgada segundo o mal que fez, pois tudo o que fizermos de mal deve ser reparado. Devemos pagar nossas dívidas, porque uma dívida contraída no mundo não pode apagar-se a não ser neste mundo. Tudo o que está ligado neste mundo não pode desligar-se no outro”

" Suportemos, pois, nossas provações com calma e resignação, mesmo quando não soubermos por que sofremos. Deus é justo e infinitamente bom. Ele não pode enganar-se. Se ele nos envia provações é porque merecemos. Não conhecemos o passado e, por isso, não sabemos porque sofremos. Talvez tenhamos feito muito mal nesta existência. Porém, como nossa alma existe há muitíssimo tempo, ela pode ter praticado muito mal e esse mal deverá ser resgatado. Não conhecemos o passado, porque, se Deus nos permitisse esse conhecimento, teríamos medo. É por isso que sofremos sem saber por quê. Mais tarde, quando conseguirmos ver no passado, saberemos de onde provém nossas provações.

‘Para que o homem consiga pagar todas as suas dívidas, é necessário inúmeras encarnações. A alma é bem mais velha do que o corpo; a ressurreição é pela reencarnação. É dito que o neto pagará as dívidas do avô. Muitas vezes o avô encarna na própria família, tornando-se descendente dele próprio. Não conhecemos nossas existências anteriores para o nosso próprio bem, pois conhecendo evitaríamos certos acontecimentos que nos surgem para nossa própria evolução”

~ Mestre Philippe de Lyon